sábado, 20 de outubro de 2012

"Pensava que ia morrer em um ano e meio", conta jovem que teve câncer de mama

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Dentista de 34 anos conta como passou pela retirada da mama e uma quimioterapia agressiva, que a deixou sem cabelo e sobrancelha

Antigos companheiros de Patrícia durante a quimioterapia, os lenços hoje são usados como echarpe para compor o visual

Seu filho não tinha três meses quando algo suspeito apareceu no seio e não parou de crescer. O que era, em princípio, um leite empedrado tomou um curso pavoroso e acabou se revelando a triste história da qual ninguém quer ser protagonista: um câncer de mama.

Patrícia Custódio, 34 anos, voltava devagar da licença-maternidade, retomando o trabalho no consultório dentário, quando percebeu um nódulo no seio direito. Ela havia passado um período complicado na amamentação, com dores e mastite (inflamação da glândula mamária causada pelo acúmulo de leite), que a levaram a pensar que o caroço pudesse ter relação com isso.

Luta para manter feminilidade foi um dos principais desafios de Patrícia Custódio

Apesar de fazer massagem diariamente para o leite descer, ela percebeu que a bolinha nunca ia embora e, 15 dias depois, começou a incomodá-la quando deitava de bruços para dormir. Foi preciso uma bateria de exames para saber do que se tratava, desde uma simples punção até a biópsia que confirmou a “neoplasia maligna”.

— Eu achava que ia morrer em um ano e meio. Fiquei apavorada. Nunca achamos que vai acontecer com a gente, sempre pensamos que somos imunes.

Foi então que a vida teve de esperar. No trabalho, a rotina como dentista seria retomada só mais tarde. Em casa, a prioridade passou a ser se curar. E o grande sonho de ter o segundo filho acabou sendo desmanchado.

— Eu queria ter outro filho por agora, quando meu filho Matheus estivesse com um ano e meio. Esse sonho já era, acabamos decidindo não engravidar novamente. Tenho medo. E se esse negócio voltar e eu morrer agora que tenho o Matheus?.

Em meio ao pavor e à falta de luz no fim do túnel na época em que foi diagnosticada, o desespero tomou conta quando viu que era muito nova para morrer e não havia feito um décimo das coisas que havia pensado para sua vida.

— Você toma um chacoalhão e pensa: ‘O que fiz da minha vida até agora?’. Eu não tinha criado meu filho ainda, não tinha ido para o Tibete, não tinha tomado um porre em Las Vegas.

Cirurgia e tratamento

Assim que descobriu a doença, Patrícia foi submetida a uma cirurgia para retirar um pedaço da mama onde estava o tumor. Mais tarde, decidiu-se pela mastectomia (retirada da mama) radical, em uma cirurgia na qual ainda a costela foi raspada e um pedaço do músculo próximo à mama, cortado. Na mesma operação foi colocada uma prótese.

A provável origem de seu câncer de mama remonta à infância, quando foi submetida à radioterapia para tratar um hemangioma (tumor benigno de vasos sanguíneos) em duas regiões no tórax.

Graças ao diagnóstico precoce e à cirurgia, o tumor na mama direita não cresceu a ponto de comprometer estruturas próximas. Isso não foi suficiente, no entanto, para livrá-la da quimioterapia, a grande vilã das mulheres em tratamento.

Foram três meses em um tipo de quimioterapia semanal mais leve e outros dois meses na mais pesada, com sessões a cada 14 dias. Fase difícil. O cabelo começou a cair e a sensação, contou, era de que não conseguia ter controle sobre o que estava acontecendo.

— Quando meu cabelo começou a cair, pensei: quero ter domínio sobre isso. Sabia que ia perdê-lo, então fui cortando aos poucos e passei do chanel para o raspado máquina número 2 na mesma semana. Depois eu mesma o raspava em casa.

Mas não foi ficar careca que mais apavorou Patrícia. A ideia de não ter uma mama foi impensável e se ver sem sobrancelha, no momento mais dramático da quimioterapia, traumático. Ela dizia ao médico que não conseguiria se olhar no espelho sem a mama e pedia a Deus para que mantivesse a sobrancelha até seu aniversário, comemorado em março com o do filho. Seu desejo foi atendido. Um mês e meio mais tarde, apenas dois pelos tinham sobrado.

Eram muitas as mudanças e era difícil dar conta sozinha. Foi preciso recorrer à ajuda de uma psicoterapeuta.

— Cheguei à terapia muito assustada. Um monte de coisa estava acontecendo e eu não verbalizava. Tinha de ser forte pelo meu marido, pelo meu filho, por minha mãe e meu pai, que se sentiam culpados pela radioterapia que fiz. Então eu não chorava e não verbalizava nada, nem o meu medo. Eu só conseguia dizer ao meu marido: ‘Se eu morrer, você se casa de novo com uma mulher muito legal porque ela será a mãe do Matheus’.

Recuperação

Um ano se passou desde a descoberta traumática. A alta ainda está longe, mas as elaborações já começaram. Hoje, depois da tormenta e ciente de que o processo é um luto cujas etapas não podem ser puladas, ela aconselha àquelas que foram diagnosticadas com a doença que pode fazer mais de 52 mil novas vítimas neste ano no País a viver um dia de cada vez.

— Não adianta ficar pensando muito antes. É preciso matar um leão por dia, então quando ele estiver chegando você resolve o que fará.

Além das cicatrizes no corpo, a maior marca que a doença deixou em Patrícia foi a postura em relação à vida. De uma pessoa que sempre deixava para o dia seguinte tarefas como ir ao supermercado, ela mudou e deixou de esperar:

— Não deixo para daqui a cinco minutos, faço agora. É um processo elaborado pelo qual vamos mudando. E hoje, para mim, a vida tem mais valor, mais cor, mais cheiro, mais nuances e mais pessoas ao meu redor.


Fonte: R7 - Saúde

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